Enquanto o mundo redesenha suas políticas industriais, o setor processador brasileiro luta para transformar resiliência em vantagem competitiva.
Agosto trouxe mais um retrato da dificuldade de produzir no Brasil. Segundo os Indicadores Industriais da CNI (Confederação Nacional da Indústria), o faturamento da indústria de transformação caiu 5,3% em relação a julho (dados dessazonalizados) e 7,6% frente ao mesmo mês de 2024. A retração se refletiu também nas horas trabalhadas (-0,3% em relação a julho), sinalizando um ambiente produtivo em desaceleração.
Entre os segmentos que mais sentiram o impacto está a indústria processadora de aço, que carrega o peso de uma equação cada vez mais complexa: custos altos, demanda morna e competição global desleal.
Na comparação de agosto com o mesmo mês do ano anterior, o faturamento da Metalurgia recuou 4,3%, e o de Produtos de Metal (exceto máquinas e equipamentos), 12,5%. O emprego também seguiu em queda — -2% e -1,3%, respectivamente.
Para a Abimetal-Sicetel, os números revelam mais do que uma oscilação conjuntural: evidenciam um modelo industrial que opera no limite da rentabilidade. Com a política monetária ainda restritiva, o crédito escasso e as tarifas dos EUA sobre produtos brasileiros corroendo mercados externos, as empresas do setor enfrentam uma tempestade que vai além dos ciclos econômicos.
E há um fator externo que agrava o cenário: as importações de produtos processados de aço cresceram 20,3% entre janeiro e setembro, em comparação com o mesmo período do ano passado (quase 60% provenientes da China).
Mesmo com recuos pontuais nos últimos meses, o volume de importados continua a desafiar a indústria local, que precisa competir com produtos de custos subsidiados, energia barata e escala inatingível.
Mas a raiz do problema está mais próxima
O Custo Brasil — essa soma de burocracia, impostos, infraestrutura precária e energia cara — continua sendo o principal fator que retira competitividade e inviabiliza novos investimentos.
Enquanto outros países planejam, o Brasil reage. E o resultado é um setor que, mesmo resiliente, produz menos do que poderia e investe menos do que precisa.
Na avaliação da Abimetal-Sicetel, a recuperação do setor não virá apenas com estímulos de curto prazo, mas com uma estratégia industrial de longo alcance, capaz de reduzir custos sistêmicos, ampliar a produtividade e estimular a transformação tecnológica.
Não se trata de proteger a indústria, e sim de criar as condições para que ela volte a competir de igual para igual. Em um cenário em que o aço continua essencial para as cadeias produtivas, de infraestrutura a energia, o desafio do empresário brasileiro é resistir, mas, sobretudo, também reinventar-se. Afinal, hoje, transformar o aço em competitividade é o que separa quem sobrevive de quem avança.