Plano chinês para o aço pode aumentar pressão sobre a indústria brasileira

Medidas anunciadas por Pequim priorizam tecnologia e sustentabilidade, mas podem reforçar a competitividade das exportações chinesas e ampliar os desafios para a indústria processadora de aço no Brasil.

A decisão do governo chinês de lançar o Work Plan for Stabilizing Growth in the Steel Industry (2025-2026) pode ter reflexos diretos no mercado brasileiro de aço. O documento, divulgado pelo Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação (MIIT) da China, estabelece crescimento médio anual de 4% no valor agregado do setor até 2026, ao mesmo tempo em que exige que 80% da capacidade siderúrgica receba investimentos para redução de emissões até o final de 2025.

Embora o plano represente uma mudança de foco, da expansão de escala para a busca por qualidade, tecnologia e sustentabilidade, especialistas apontam que a medida pode aumentar a competitividade das exportações chinesas. Para o Brasil, que já enfrenta forte pressão das importações, sobretudo do aço chinês, o cenário tende a se tornar ainda mais desafiador.

Entre os pontos chaves do plano estão:

  • Proibição da expansão de novas capacidades produtivas;
  • Incentivo à consolidação via fusões e aquisições, favorecendo grandes grupos siderúrgicos;
  • Estímulo à produção de aços de maior valor agregado;
  • Garantia de fornecimento estável de minério de ferro, carvão coqueificável e sucata de alta qualidade, com incentivo à importação desses insumos

Impacto da notícia no mundo

O anúncio já trouxe efeitos imediatos no mercado internacional. O preço do vergalhão no mercado spot chinês subiu RMB 24/tonelada, chegando a RMB 3.257/tonelada. Para o Brasil, onde o setor processador de aço vem sofrendo com a invasão de produtos importados a preços reduzidos, o movimento chinês acende um alerta. Caso as empresas chinesas avancem rapidamente em eficiência produtiva e ambiental, o diferencial competitivo poderá se ampliar ainda mais.

“O plano da China mostra uma clara intenção de reposicionar sua siderurgia no cenário global, combinando ganhos ambientais com aumento de valor agregado. Isso pode significar que o aço importado chegue ao Brasil com ainda mais força competitiva, pressionando as margens das indústrias locais. Precisamos de políticas robustas de defesa comercial e incentivo à competitividade para equilibrar esse jogo”, avalia o economista André Cattaruzzi, da Abimetal-Sicetel.

Diante desse cenário, o setor brasileiro reforça a necessidade de medidas que protejam a indústria nacional — desde tarifas antidumping até programas de estímulo à inovação —, de forma a garantir condições mais justas de concorrência com um dos maiores players globais.

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