Os processadores de aço sofrem queda de margem e receita em função dos importados

Enfrentando um aumento de 18,9% nas importações e uma consequente queda de preços, os produtores já não conseguem enxergar uma luz no fim do túnel.

Por: Ricardo Martins, Presidente da Abimetal-Sicetel

O mercado de aço processado está, sem dúvida, em um ponto de inflexão. Os dados mais recentes que circulam no setor revelam um cenário de competição acirrada com produtos importados, já prontos para o consumo final.

Há pouco tempo comentávamos que nosso futuro seria o de nos tornarmos distribuidores de produtos importados. Hoje, constatamos que nem isso nos resta: nossos clientes finais já importam diretamente da China, em pequenos ou grandes volumes.

Mesmo com a elevação de algumas alíquotas de importação, seguimos registrando um volume expressivo de importações. O aumento de alíquota foi anulado pela redução dos custos do frete internacional, a desvalorização do dólar e a redução dos preços praticada pelos fornecedores estrangeiros.

Esse volume cresceu 18,9% no acumulado do ano até outubro de 2025. A principal preocupação está na concentração: a China já responde por quase 60% dessas importações. Grande parte desse avanço está relacionada às dificuldades enfrentadas pelo país em seus mercados tradicionais, seja devido à tarifa americana de 50% sobre produtos de aço, seja pela reação da Comunidade Europeia, fatores que impulsionam o desvio de seu excedente para a América Latina. Por ser o maior mercado regional, o Brasil torna-se o principal destino desses produtos.

É importante destacar que apenas a China possui um excedente de produção anual de cerca de 150 milhões de toneladas de aço, buscando continuamente mercados capazes de absorver volumes que não são consumidos internamente, mesmo que, para isso, pratique preços muito inferiores aos que conseguimos produzir no Brasil. Para dimensionar esse impacto: toda a produção de aço no Brasil gira em torno de 30 milhões de toneladas; ou seja, o excedente chinês é cinco vezes maior do que nossa produção total.

Não estamos levando em conta o aço “embarcado” ou “contido” nos produtos finais que importamos — carros, autopeças, máquinas e equipamentos — que, ao entrarem no país, deixam de utilizar matéria-prima brasileira e, principalmente, deslocam empregos nacionais para o exterior.

Não há otimismo que resista

As perspectivas não são positivas. Sabemos que não haverá aumento de demanda diante da atual política de juros do Banco Central; tampouco haverá redução do chamado custo Brasil, cada vez mais pressionado pelo aumento de impostos, consequência da necessidade de financiar uma máquina estatal inchada.

Esperar um olhar especial do governo para a indústria torna-se cada vez mais difícil, especialmente diante de pautas como a redução da jornada 6×1, que, caso aprovada, trará ainda mais dificuldades ao setor.

Parece haver uma desconexão entre nossos governantes e o cenário internacional. Países ricos e desenvolvidos revisam constantemente suas políticas de assistência e previdência, diante da constatação de que não haverá receita futura suficiente para sustentá-las. Enquanto isso, no Brasil, seguimos ampliando benefícios sem clareza sobre como serão financiados.

Enquanto o mundo tem certeza de que o multilateralismo acabou, nosso país insiste em defender o contrário e ainda se subordina às regras da OMC, acreditando que ainda possa restabelecer sua relevância.

Visão de futuro: defesa comercial é vital para o nosso mercado

Seja garantindo isonomia na disputa de mercado com os produtos importados, seja monitorando preços e qualidade para coibir subfaturamento e importações de produtos não conformes, a Abimetal/Sicetel tem concentrado todos os seus esforços para assegurar um ambiente de negócios mais favorável às empresas do setor.

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