Muitas incertezas com o que vem por aí na era Trump, mas vamos em frente
Por: Ricardo Martins, Presidente da Abimetal-Sicetel
Nas últimas semanas, as manchetes se voltaram à política protecionista dos Estados Unidos sob a liderança de Donald Trump, que impôs tarifas de até 25% sobre as importações de aço. Apesar da reação inicial, a verdade é que, para o setor representado pela Abimetal, o de processamento de aço, os impactos diretos dessas medidas foram limitados. Apenas duas siderúrgicas brasileiras foram afetadas de forma significativa — e ainda assim, estão em processo de negociação de cotas com o governo norte-americano.
O verdadeiro risco, porém, não vem da Casa Branca. Ele chega por nossos portos. Com a porta dos EUA praticamente fechada, a China busca novos destinos para escoar seu excedente de aproximadamente 300 milhões de toneladas de aço — o equivalente a quase dez vezes a produção nacional. E o Brasil, com um mercado interno vulnerável, infraestrutura enfraquecida e baixa proteção comercial, pode se tornar terreno fértil para essa invasão silenciosa. Não é apenas o aço bruto que entra em nossos portos, mas também produtos com aço embutido, muitas vezes com alto grau de subsidiação ou dumping disfarçado, que competem com as nossas empresas em condições completamente desiguais.
Enquanto potências mundiais avançam sob a proteção estratégica de seus mercados, o Brasil segue competindo com desvantagens internas e externas. A ausência de uma política de Estado voltada ao fortalecimento da indústria deixa o setor exposto não apenas a movimentos geopolíticos, mas à voracidade de gigantes como a China. O impacto disso é direto: perda de mercado, desestímulo à produção nacional, fechamento de postos de trabalho e estagnação de um setor que é vital para o desenvolvimento do país.
Para a Abimetal, a prioridade é clara: precisamos agir preventivamente. É urgente ampliar as tarifas de importação e intensificar as barreiras comerciais contra o excesso de produção global que nos ameaça.
A nossa luta, como representantes do segmento, vai além da reação pontual a tarifas internacionais. Precisamos pressionar por uma atuação mais estratégica e propositiva do governo. Precisamos de medidas de defesa comercial mais ágeis e eficazes. Precisamos de políticas industriais que promovam competitividade, desonerem a produção e valorizem quem gera valor e emprego dentro do território nacional.
Na Abimetal, temos buscado intensamente essa proteção — tanto por meio da defesa comercial quanto pelo diálogo com autoridades e entidades do setor. Não se trata de fechar o Brasil ao mundo. Trata-se de garantir condições mínimas de competição para quem atua aqui. Afinal, é a ausência de uma política nacional de defesa da produção, que nos deixa expostos a ondas globais sobre as quais não temos controle — mas cujos efeitos sentimos diretamente no chão da fábrica.
Com isso, impulsionar a nossa indústria exige mais do que resistência: exige visão, articulação institucional e vontade política. E esse movimento precisa começar agora.É hora de parar de reagir apenas quando o problema bate à porta. Precisamos olhar adiante, reconhecer os sinais e resguardar nossa indústria antes que o verdadeiro perigo desembarque de vez.