Concorrência externa e juros altos agravam crise da indústria do aço

Pesquisa Sondagem Industrial revela o pior desempenho da metalurgia em agosto desde 2015; economista da Abimetal-Sicetel alerta para combinação de fatores internos e externos que comprometem a competitividade do setor.

Agosto trouxe mais uma vez números preocupantes para a indústria processadora de aço, representada pela Abimetal-Sicetel. Em um cenário marcado por juros elevados, desaceleração da economia brasileira e a invasão de produtos importados, especialmente vindos da China, o setor enfrenta retração consistente em sua produção, como mostra a mais recente Sondagem Industrial da Confederação Nacional das Indústrias (CNI).

O levantamento aponta que a metalurgia registrou 42,3 pontos em agosto, abaixo dos 45,9 observados em julho, acumulando sete meses consecutivos em território de contração. Esta categoria inclui a siderurgia, fundição e produção de perfis, barras de aço e arames, estas três últimas, produzidas por associadas da Abimetal-Sicetel. O índice também representa o pior resultado para o mês desde 2015, quando havia alcançado 39,7 pontos, e está distante da média histórica de 49,8 pontos para o período. Esses índices são construídos de maneira que valores acima e abaixo de 50 indicam expansão e retração da produção, respectivamente. Quanto mais distante do patamar de referência, maior a magnitude da variação.

Entre os produtos de metal (exceto máquinas e equipamentos), segmento que abrange itens como cabos de aço, telas, pregos, grampos e lâminas para motores elétricos, a situação também se agravou. O indicador caiu para 47,9 pontos, revertendo a leve expansão registrada em julho (50,8). Trata-se do pior desempenho para agosto desde 2016, ficando abaixo da média de 51,2 pontos registrada no período pós-pandemia

Vale destacar que a retração não se limita a esses segmentos. A indústria de transformação e extrativa como um todo também sofreu recuo: em agosto, registrou 47,2 pontos contra 52,6 no mês anterior. Em comparação ao mesmo período de 2024, quando havia alcançado 52,2 pontos, a diferença mostra a deterioração das condições produtivas em apenas um ano

O fraco desempenho dos setores em que se insere a indústria processadora de aço se reflete nos dados de utilização da capacidade instalada, que permanece em níveis baixos. Em agosto, foi de 63% na metalurgia e 66% para produtos de metal, ambos abaixo dos 67% registrados no mesmo período de 2024

Pressões internas e externas

Além dos fatores internos (alta carga tributária, juros elevados e desaceleração da economia brasileira), o setor convive com pressões externas adicionais. As tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos siderúrgicos e brasileiros afetam diretamente as empresas que exportam e também as que integram cadeias produtivas ligadas a bens de maior valor agregado, como máquinas e equipamentos.

“A indústria processadora de aço vive um momento crítico, em que fatores internos e externos se somam. A queda da produção mostra que não se trata apenas de um ajuste pontual, mas de uma tendência preocupante. Juros altos limitam o investimento e o consumo, enquanto a concorrência desleal das importações e barreiras comerciais, como as tarifas americanas, comprometem a competitividade. Sem medidas concretas de estímulo e proteção ao setor, o cenário tende a se agravar nos próximos meses”, avalia o economista da Abimetal-Sicetel, André Cattaruzzi.

Com a soma de obstáculos, o setor enxerga os próximos meses com cautela. A perspectiva é de manutenção das dificuldades, o que reforça a necessidade de políticas públicas eficazes e medidas de defesa comercial que permitam às empresas brasileiras competirem em igualdade de condições no mercado global.

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