A urgência de proteger a indústria nacional: por que as tarifas de importação fazem diferença?
Com importações em alta e confiança industrial em baixa, setor processador de aço alerta para o risco de desindustrialização diante da falta de medidas efetivas de defesa comercial.
Imagine competir em uma corrida em que os seus concorrentes largam metros à frente, calçam tênis turbinados e correm em pista plana, enquanto você tenta avançar com os pés descalços e o terreno inclinado contra. É assim que muitas indústrias brasileiras se sentem quando olham para o cenário atual: expostas, desprotegidas e pressionadas por produtos importados que chegam ao país com preços impossíveis de acompanhar — muitas vezes, porque são produzidos em condições que jamais seriam aceitas aqui.
A indústria processadora de aço é um desses casos emblemáticos. Dados da Abimetal-Sicetel do primeiro bimestre de 2025 mostram um aumento de 30,8% nas importações de produtos similares em relação ao ano anterior. Na comparação com 2018, o crescimento chega a 77,4%. Não por acaso, o setor segue em retração. A fabricação de produtos trefilados, que inclui cabos, arames, telas e pregos, recuou 3,3% no acumulado de 12 meses. E mesmo com leve recuperação pontual em fevereiro, o histórico dos últimos anos ainda é de perdas consecutivas.
É um jogo desigual. Quando países como a China subsidiam sua produção ou buscam escoar excedentes gigantescos a qualquer custo, é nosso mercado que vira alvo. E sem tarifas de defesa adequadas, o Brasil vira vitrine — não vitrine de inovação, mas de oportunidades fáceis de entrada.
Os números da confiança industrial reforçam a sensação de insegurança. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) de março, divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra que os setores ligados à indústria do aço continuam abaixo da linha dos 50 pontos — o que indica pessimismo predominante. Mesmo com pequenas melhoras nas expectativas, a percepção sobre as condições atuais segue negativa. Para os empresários do setor, o otimismo ainda está longe de ser recuperado.
Mesmo quando a produção melhora pontualmente, o sentimento permanece travado. A conta não fecha quando se olha o presente e se vê o mercado sendo tomado por produtos importados com os quais não conseguimos competir. Diante disso, a urgência, não é ideológica — é econômica. As tarifas de importação, quando bem aplicadas, não impedem o comércio. Elas equilibram o jogo. Elas protegem empregos, mantêm a roda da produção girando e preservam a autonomia industrial de um país. E hoje, com o agravamento da guerra comercial entre EUA e China, o risco de inundação de produtos chineses redirecionados ao Brasil é real e iminente.
A boa notícia? Ainda é possível reagir. Mas isso exige uma postura mais firme do Brasil na adoção de medidas de defesa comercial, atualização das tarifas, ações antidumping e respostas rápidas às distorções de mercado. Proteger a indústria nacional é garantir que o Brasil continue produzindo, inovando e empregando — em vez de assistir de braços cruzados a mais uma onda de desindustrialização passar.