O novo ciclo de exportações chinesas e o desafio estratégico para a indústria do aço no Brasil

Com 87,9 milhões de toneladas exportadas até setembro e aumento de 10% no mês, siderúrgicas chinesas ampliam presença global e intensificam desequilíbrios competitivos que atingem a cadeia produtiva brasileira.

A escalada das exportações de aço da China no acumulado de janeiro a setembro de 2025, um avanço de 9,2% em relação ao mesmo período de 2024, confirma uma tendência de reposicionamento estratégico do país no mercado global, de acordo com matéria publicada no portal GMK Center. No ano, o volume exportado pelo país atingiu 87,96 milhões de toneladas. Apenas em setembro, as siderúrgicas chinesas embarcaram 10,47 milhões de toneladas, 10% a mais que no mês anterior, atingindo o maior patamar em quatro meses.

No mesmo período, a China importou 917,69 milhões de toneladas de minério de ferro, montante próximo ao volume do ano anterior. Em setembro, o país atingiu um recorde mensal de 116,33 milhões de toneladas, crescimento de 10,6% sobre agosto e de 11,7% sobre setembro de 2024. A produção média diária de ferro-gusa também avançou, chegando a 2,42 milhões de toneladas, sinalizando ritmo estável e capacidade ociosa ainda disponível.

Sob a ótica da Abimetal-Sicetel, essa combinação — produção elevada, exportações crescentes e consumo interno contido — forma o tripé que mantém o aço chinês em posição de vantagem nos mercados internacionais. Ao ampliar seus embarques, a China escoa o excedente de produção a preços muitas vezes inferiores aos praticados localmente, provocando distorções severas nos mercados que não contam com barreiras tarifárias ou instrumentos de defesa comercial ágeis, como é o caso do Brasil.

Compressão das margens das indústrias brasileiras

O resultado é a compressão das margens das indústrias processadoras brasileiras, que enfrentam o duplo desafio de custos internos elevados e concorrência desleal. Produtos trefilados, como arames, cabos, grampos, pregos e telas de aço, já vêm sofrendo os efeitos desse desequilíbrio, com retração da produção e perda de participação no mercado doméstico.

Para a associação, a situação exige uma resposta coordenada de política industrial e comercial, voltada a preservar a base produtiva nacional. É necessário fortalecer mecanismos de defesa comercial, agilizar investigações antidumping e adotar políticas que estimulem a agregação de valor e a inovação no setor.O que isso significa? Que os números indicam mais do que um aumento conjuntural de exportações. Afinal, trata-se de um realinhamento estratégico global que pode redefinir as condições de competição no aço processado. Se o Brasil não agir, o risco é de consolidar uma dependência estrutural de insumos importados e enfraquecer a capacidade de transformação industrial no país.

Para os empresários do setor, compreender essa dinâmica é essencial para redefinir estratégias de posicionamento, buscar eficiência operacional e apoiar a construção de um ambiente de negócios que garanta previsibilidade e competitividade à indústria processadora de aço no território nacional.

Compartilhe nosso conteúdo

plugins premium WordPress