Desafios diante da concorrência externa e da perda de dinamismo da economia brasileira é fotografia do cenário atual.
Apesar de a produção industrial brasileira ter avançado 0,8% em agosto na comparação com o mês anterior (dados dessazonalizados), o setor de trefilados de metal, que reúne produtos como cabos, cordoalhas, grampos, pregos e telas de aço, registrou uma queda de 2,8% nesse período, segundo levantamento da Abimetal-Sicetel com base em dados do IBGE.
Na comparação com agosto de 2024, a retração da produção de trefilados foi ainda mais expressiva, de 7,7%, confirmando o cenário de enfraquecimento da atividade para as indústrias processadoras de aço. Segundo André Cattaruzzi, economista da Abimetal-Sicetel, o resultado preocupa, especialmente porque o setor de trefilados vinha tentando se reerguer após três anos seguidos de queda na produção. “Mesmo com um pequeno avanço acumulado em 2025, de 0,8%, trata-se de uma recuperação sobre uma base muito complexa, em que os preços estão sendo pressionados para baixo, em decorrência das importações”, explica.
Para Ricardo Martins, presidente da associação, a desaceleração da economia brasileira e o aumento expressivo das importações têm comprometido a competitividade da indústria nacional. “O volume de produtos importados cresceu 20,3% até setembro, e quase 60% desse total veio da China. Essa entrada maciça de materiais, muitas vezes com preços artificialmente baixos, tem pressionado os preços internos e prejudicado as margens das empresas brasileiras”, afirma.

Além das importações, Cattaruzzi destaca que fatores externos, como as tarifas impostas pelos Estados Unidos ao aço, também geraram efeitos indiretos. “Essas medidas criaram distorções no mercado global e acabaram redirecionando excedentes de produção para países com menor proteção comercial, como o Brasil. Adicionalmente, muitas empresas processadoras integram cadeias produtivas de produtos diretamente afetados pelas tarifas do governo Trump”.
O cenário é de atenção redobrada, pois, mesmo com o crescimento observado em outras áreas que incluem atividade processadora de aço, como a metalurgia, que avançou 0,6% no mês, o segmento de trefilados ainda sofre com a queda de demanda interna e a falta de políticas industriais de estímulo.
“Precisamos de uma política mais firme de defesa comercial e de valorização da produção nacional. A indústria processadora de aço é estratégica para o país, gera empregos, inovação e valor agregado. Se não houver isonomia competitiva, corremos o risco de perder ainda mais capacidade produtiva”, conclui Ricardo.
